Psicóloga da Santa Casa de São José dos Campos explica como identificar e tratar depressão, ansiedade generalizada e transtorno do pânico
Com a chegada da pandemia de Covid-19, em março de 2020, a população enfrentou não só o vírus que deixou mais de 700 mil mortos no Brasil, mas também um sentimento persistente de medo, além de instabilidade emocional e financeira. Diante deste cenário, com um futuro cada vez mais imprevisível, a depressão, a ansiedade generalizada e o transtorno do pânico tiveram grande aumento no número de atendimentos na rede pública entre 2019 e 2023.
E neste mês de janeiro, ganha destaque uma campanha essencial para promover a conscientização sobre este tema que muitas vezes é negligenciado pela população. O Janeiro Branco, que foi iniciado no Brasil em 2014, é uma mobilização que busca estimular debates, reflexões e ações voltadas para o cuidado emocional e psicológico.
Psicóloga da Santa Casa de São José dos Campos, Carmela Silvana da Silveira destaca a importância de identificar sinais precoces destes transtornos. “Mudanças sutis, como alterações no sono, perda de interesse em atividades habituais e isolamento social, podem ser indicativos de depressão, por exemplo. É importante que as pessoas e seus entes queridos estejam atentos a esses sinais e busquem ajuda profissional. Quanto mais cedo a depressão for reconhecida e tratada, melhores são as chances de recuperação”, afirma.
Em relação à ansiedade generalizada, a especialista ressalta que identificar o transtorno pode ser um desafio, já que seus sintomas muitas vezes se manifestam de maneira sutil e variada. “Esta condição, caracterizada por preocupações excessivas e persistentes que podem interferir no dia a dia, apresenta uma gama diversificada de sintomas físicos e emocionais. Indivíduos que sofrem deste transtorno podem apresentar inquietação constante, dificuldade em se concentrar, tensão muscular, fadiga crônica, irritabilidade e problemas para dormir”, diz.
Já o transtorno do pânico se caracteriza por ataques de pânico recorrentes, marcados por uma sensação avassaladora de medo ou terror, acompanhada por alguns sintomas físicos, como palpitações, falta de ar, tremores, sudorese, tontura e uma sensação de estar fora de controle.
“O tratamento muitas vezes envolve uma abordagem multifacetada. Terapias cognitivo-comportamentais, técnicas de relaxamento, como a respiração controlada, e, em alguns casos, o uso de medicação sob orientação médica, são algumas das estratégias frequentemente utilizadas. Além disso, entender e aprender a lidar com os gatilhos que desencadeiam os ataques de pânico é essencial para o gerenciamento eficaz dessa”, explica a psicóloga Carmela.
A importância de desmistificar os transtornos
Desmistificar os transtornos mentais é um passo crucial para construir uma sociedade mais inclusiva e compassiva. Essa ação não apenas reduz o estigma em torno das doenças psicológicas, mas também abre portas para a compreensão, empatia e busca por ajuda. Inclusive, o aumento no número de atendimentos na rede pública pode também estar relacionado ao fato de que as pessoas estão dando mais importância aos transtornos psicológicos e procurando auxílio médico.
“A saúde mental é uma parte essencial e intrínseca do nosso bem-estar, porém, por muito tempo, foi envolta por tabus e estigmas que dificultaram a compreensão e a busca por ajuda. Desmistificar esses tabus e promover um diálogo aberto e saudável sobre questões emocionais e psicológicas são ações fundamentais para que, cada vez mais, a população busque ajuda”, diz Carmela.
Dados alarmantes
Informações do Ministério da Saúde mostram que o número de atendimentos ambulatoriais de depressão aumentou 34%, passando de 98.063 em 2019 para 131.732 em 2023 (somente até outubro de 2023). O crescimento na ansiedade generalizada foi ainda maior: 285%, pulando de 71.293 em 2019 para 274.682 em 2023. Já os casos de transtorno do pânico cresceram 93%, passando de 16.805 para 32.562.
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